sábado, 26 de julho de 2008

FALECEU ADRIANO CASTRO - PERSONAGEM HISTÓRICO DA LONGRA / FELGUEIRAS

Adriano Castro 1922-2008

Faleceu Adriano Sampaio Castro, um bom e ilustre felgueirense. Grande bairrista, entusiasta e laborioso empreendedor de acções em prol da sua terra e concelho, há dias desaparecido do número dos vivos, personalidade que faz jus a preito de justa recordação e homenagem.
Adriano Castro (n.1922-f.2008), com efeito, foi protagonista de eventos apreciados do meio ambiente comum, algo que em tempos já passados o tornou destacado agente dinamizador de iniciativas socioculturais e desportivas no panorama concelhio de Felgueiras em décadas recuadas.


1947 – Adriano Castro no seu Sport Club da Longra (ao meio, em pé, quinto a contar da esquerda) – foto do livro “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”.


Felgueirense de gema, Adriano Pinto Sampaio e Castro, autor de iniciativas pioneiras para o desenvolvimento humano da região, realizou acontecimentos ímpares e deveras avançados para o seu tempo, de acção e progresso, por vezes até em prejuízo da sua vida, ficando sobretudo recordado como personagem carismático do desporto Felgueirense, mas também para sempre associado na sua personalidade a diversas realizações de cariz social e âmbito recreativo. Com destaque a seus papéis de fundador do Sport Club da Longra e co-fundador do Grupo Desportivo de Felgueiras, agremiações de Basquetebol que na década dos anos 40 fizeram furor. Além de, especialmente, ter sido um dos co-fundadores da definitiva versão do antigo e histórico Futebol Clube de Felgueiras, tendo inclusive sido elemento integrante da sua primeira equipa que disputou jogos oficiais.



No plano social, cuja veia não era de menores munições, esteve Adriano Castro igualmente ligado a grupos de teatro e companhias locais de espectáculos, na Longra e na sede concelhia, tendo também servido a causa como comediante, autor de cenários e letras. Entretanto, nos princípios dos anos cinquenta, foi gerente do Cine-Teatro Fonseca Moreira, na então vila de Felgueiras, tendo para o efeito procedido a importantes obras de remodelação do artístico edifício cultural da sede do concelho, após cujo restauro a sala reabriu ao público em Abril do primeiro ano de tal década do século XX. Na mesma época fez também parte da comissão de festas da tradicional Feira de Maio de Felgueiras, entre outras prestações conjuntas. E, sempre com o interesse da terra acima de tudo, esteve na primeira linha de movimento empreendedor de mudança destinada a inverter marasmo existencial, que nos idos de cinquenta se apoderara dos destinos da Casa do Povo da Longra, metendo peito a campanha de transformação de que surgiu Comissão Administrativa que, ao tempo, revitalizou a actividade daquela casa. Na sua constante presença em tudo o que fosse motivo de dinamização concelhia, incluiu ainda o conjunto de homens que criaram a última e definitiva existência do F. C. de Felgueiras, de que foi membro directivo e atleta da primeira equipa oficial. Enquanto organizava outros acontecimentos desportivos, como circuitos de ciclismo, chegando a trazer à região grandes nomes dos pedais, para corridas de ciclismo, aquando da festa sanjoanina do Largo da Longra e à vila de Felgueiras pela Feira de Maio, etc. E, sem esquecer as origens, criou equipa de basquetebol representativa da Casa do Povo da Longra e outra da Metalúrgica da Longra, no último caso com formação que desenvolveu essa prática anos a fio. De permeio ao entusiasmo desportivo e diligências sociais, Adriano Castro esteve envolvido em mais e diferentes acções culturais, de que se recorda por exemplo a saliente organização de homenagem prestada, em Felgueiras, ao Felgueirense P.e Luís Rodrigues, em 1954. Além de que num eclectismo digno de nota, teve laivos de projectar sua proveniência natal em honrosas ligações à organização de quatro edições da Volta a Portugal em bicicleta, ao Grande Prémio Automobilístico de Fórmula 1 realizado na Foz do Douro, do Porto, na década de cinquenta, entre outros acontecimentos que marcaram época. Assim como foi responsável pela ida de alguns jovens Felgueirenses com valor desportivo para patamares de prestígio (como o ciclista Artur Coelho, depois vencedor da Volta a S. Paulo do Brasil e camisola amarela em diversas Voltas a Portugal; como também os futebolistas Freitas e Silva, que envergaram a camisola alvi-anil de juniores do F. C. Porto). De género diferente, organizou também garraiadas na Feira Popular do Porto, bem como touradas em diversas localidades, entre as quais em 1963 a primeira corrida de touros que teve lugar em Felgueiras. Sem se poder esquecer que, num vasto rol de cometimentos do género, levou a efeito até um torneio de combates exibicionistas de Boxe na Casa do Povo da Longra. Numa faceta complementar, escreveu no jornal O Norte Desportivo, periódico que nas décadas de cinquenta a setenta, pelo menos, foi o informativo de desporto mais lido no norte do país - sendo Adriano Castro quem fez para esse prestigiado jornal a reportagem da primeira subida de divisão do F. C. Felgueiras, em 1965.


Adriano Castro (na segunda fila, ao centro da gravura, em pé), na pioneira equipa do histórico F. C. de Felgueiras que, pela primeira vez, disputou jogos oficiais, na época de 1953/54 – foto do livro “Futebol de Felgueiras - Nas Fintas do Tempo: 1932/2007”.


Adriano Castro (n.10-8-1922) residia há diversos anos no Porto, mas visitava frequentemente sua terra, a actual Vila da Longra, na qual mantinha contactos e amizades. Curiosamente a sua fixação na Invicta, extensiva à prole familiar naturalmente, deu azo a que seu filho, Adelino Castro, também Felgueirense nascido na Longra, se salientasse nos meios culturais portuenses como destacado agente ligado a edições literárias e a uma distribuidora livreira. E, apesar de estar a residir relativamente distante, Adriano Castro foi mantendo seus vínculos característicos como provou quando, em Novembro de 1993, veio à Câmara de Felgueiras no desempenho de missão sentimental para entregar a primeira bandeira do concelho, cumprindo vontade de seu tio Dr. António Castro em fazer doação póstuma desse histórico símbolo municipal, cujo pano foi salvo e esteve longos anos guardado religiosamente na posse daquele antigo Administrador do Concelho. Passado pouco tempo, em 1994 foi ainda o mesmo Adriano Sampaio Castro que tomou a iniciativa de homenagem evocativa prestada ao fundador do F. C. Felgueiras, então na passagem do 25º aniversário do desaparecimento de Verdial Moura do número dos vivos. E marcou presença, como não podia deixar de ser, fazendo companhia ao autor destas linhas, na inauguração da Casa do F. C. Porto de Felgueiras, em 2004. Estando, nos últimos tempos, a esperar ansiosamente pela reabertura da mesma delegação azul e branca, como constantemente se inteirava junto do seu amigo signatário destas anotações evocativas.



Em inícios dos anos 50, quando trouxe a equipa principal do F. C. Porto a Felgueiras, na campanha de angariação de fundos para a construção do Estádio das Antas. Adriano Castro (à esquerda, com gesto de apresentação), na recepção das autoridades municipais de Felgueiras à honrosa embaixada, vendo-se em destaque, ao centro, os ídolos desse tempo Monteiro da Costa, António Teixeira, Barrigana, Sá Pereira, entre outros. – Foto do livro “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”.


Faleceu na antepassada quinta-feira, dia 17 deste mês de Julho, no Porto, ficando a repousar na cidade Invicta o merecido descanso, em jazigo de família no cemitério de Agramonte.
Sendo um personagem histórico de referência, emergente entre pares da velha guarda, com acção em tempos áureos da vivência local, merece por conseguinte atenciosa lembrança.

Este texto foi inicialmente escrito para publicação no jornal Semanário de Felgueiras, mas como a paginação da respectiva crónica ali ainda está a aguardar vez, por ora, antecipamos a edição por este meio, para não perder actualidade o devido conhecimento público do desaparecimento deste nome da Longra e de Felgueiras.

© ARMANDO PINTO

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