Entre manhãs de luz já ténue no conhecimento e soalheiras tardes mais presentes nas letras vindas a público na área da Vila da Longra, sempre existiu gente com veia para a poesia, conhecida sobretudo através de composições poéticas, nomeadamente sonetos clássicos, mas também versos de outros géneros, saídos nos jornais locais, sob a influência da musa Felgueirense e Ninfas do rio Sousa.
Parte dessa colheita ainda poderá ser procurada nas colecções existentes de jornais concelhios, porém muito de tal acervo estará desaparecido com os próprios autores, à falta de exemplares que tenham sobrevivido à erosão do tempo. Embora haja algumas colecções preservadas, por via de conjuntos particulares de periódicos ofertados à biblioteca municipal, por exemplo, mas sem que esteja completa a existência dos jornais que existiram por terras de Felgueiras, note-se.
Assim sendo, são pois os livros que melhor guardam a escrita. Na falta de mais material, à mão, salva-se o que está impresso em livro, também no que toca aos poetas ou versadores de poesia, localmente.
Contentamo-nos, assim, em registar os que deram testemunho ou tiveram oportunidade de ser incluídos em testemunhos publicados dessa arte de trabalhar as frases por meio de publicações encadernadas, em livros próprios ou publicações encapadas em que foram inseridos. Englobando-se, aqui e agora, apenas gente das freguesias da zona da Vila da Longra, do que há conhecimento público e particular.
Sem alardes de correntes de estilo poético, até porque apenas somos apreciadores de versos rimados de tendência e mensagem melodiosa, cingimo-nos aqui a uma apresentação simples, em traços muito sucintos das obras ou edições em que essas estéticas composições literárias foram publicadas.
Lucas Teixeira – Poeta e Iluminurista
Articulando tais valores enfeixados em livros, passa-se a um memorando de possível rol. Surgindo logo em destaque Lucas Teixeira, um Felgueirense natural de Varziela (nascido em 1918, tendo completado 90 anos em Março passado), o qual obteve grande saliência nas artes e nas letras, sobressaindo como poeta no Brasil, onde se fixou no exercício da arte do desenho iluminista a partir de 1954, depois de abandonar a vida monástica. Ele que fora Monge Beneditino, quando se chamava Frei D. Lucas Teixeira e se tornara famoso como autor de iluminuras. Foi mesmo honrado na toponímia da sede concelhia, desde 1993, tendo a cidade de Felgueiras uma artéria denominada Rua Frei Lucas Teixeira. Esse nome, tirando o título de sua profissão religiosa, de que abdicara de permeio, acabou por ficar como nome artístico, pois que por nascimento era Armando Teixeira, conforme seu nome de registo civil. Natural de Varziela, foi um Felgueirense proeminente quer como autor de iluminuras e como poeta, capaz de ilustrar obras literárias através de «milagres de pergaminho, ouro e tintas da sua arte paciente e piedosa» quais «verdadeiros poemas as suas iluminuras» eram, tal qual em dom poético foram considerados «verdadeiras iluminuras os seus poemas»! De sua lavra saíram lindos versos enfeixados em livros cujas capas foram ilustradas por si na veia do artista de mãos e pensamento que foi Lucas Teixeira, tendo escrito em verso as obras intituladas “Na Mão de Deus”, cuja publicação ocorreu no Brasil em 1958, como também “O Teu Retrato, Mãe”, edição de 1960 (contendo igualmente ilustração própria das páginas), “Portugal Que Não Se Esquece”, com duas edições em 1965, e “Portugal Pecado e Graça”, saído em São Paulo no ano de 1984.
Padre Luís Rodrigues – Musicólogo e Poeta
Poeta foi também o natural de Rande Padre Luís de Sousa Rodrigues, compositor musical e sacerdote carismático, celebrizado como Reitor da igreja da Lapa, do Porto. O qual, de verdade, foi poeta com mensagens belas em versos de encanto místico, quer em letras de seus cânticos religiosos, como em escrita pessoal. Chegou o P.e Luís Rodrigues até a enviar mensagens de Boas Festas a personalidades e pessoas amigas em verso. De seu versejar, patenteando esmerada veia poética, conhecem-se diversos excertos dispersos, dos quais ficaram publicados exemplares sintomáticos com inclusão em obras que postumamente lhe foram dedicadas – “In Memoriam do P.e Luís Rodrigues”, edição de 1981, no Porto, organizada pelo Dr. Ângelo Alves; “Do Evangelho para a Vida”, com 1ª edição em 2004 e 2ª em 2006, de António Manuel Casimiro e José António Araújo Pereira; e “Padre Luís Rodrigues: Uma Vida de Prece Melodiosa”, de Armando Pinto, ed. 2004.
Estes e outros expoentes locais do género, contudo, não foram incluídos na “Primeira Colectânea de Poetas Felgueirenses”… mas isso é outra história. Como outras seguintes…
António Sousa Gomes
– Poeta e Activista das antigas Forças Vivas da Longra
Também não foi incluído na referida colectânea um exemplo como A. Sousa Gomes, a quem procuramos fazer justiça, surgindo esta referência por, ao menos desta forma, aparecer publicado, com uma das suas composições (letra da Marcha de Rande) inserta no “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”. Ficou assim também registada a veia poética de António Sousa Gomes, poeta de grande lavra trovadora, de composições em verso que, apenas, tiveram luz em jornais de Felgueiras do seu tempo e cantos entoados publicamente na Longra, tendo ficado com a família seu espólio literário inédito. Aliás outros modelos do género apenas por idêntica via tiveram preservação referencial de algo da sua obra, como igualmente aconteceu com António Ferreira, incluído também no referido “Memorial Histórico...” (com a letra da Marcha da Longra) e seu filho Carlos Ferreira (com o famoso poema “Roteiro da Longra”). Como outros, a que adiante se faz menção.
Outros géneros de publicações igualmente guardam exemplos, como é o caso da revista do Centro Cultural e Recreativo da Longra, de Dezembro de 1978 (“Educação na Antiga Grécia”, publicada no Natal desse ano), onde estão versos de Artur Barros, Fernando da Costa Pinto e Porfírio Sampaio, Felgueirenses da Longra. Bem como idêntica revista publicada em Março de 1979, do “1º Aniversário do Real Clube dos Carvalhinhos”, na qual ficou impresso poema do anteriormente referido Fernando C. Pinto.
Assim como no nosso “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, publicado em 1997, ficaram guardados para sempre alguns poemas de inspiração bairrista, dos quais alguns se referenciaram anteriormente, mas será de alongar, agora para destacar mais. Num leque de, entre poetas não publicados noutras edições, haver cantos legados à sua terra de Rande e concelho de Felgueiras por António Sousa Gomes, Francisco Sarmento Pimentel, António Ferreira e Carlos Nunes Ferreira, além de um exemplo de quadra popular de Leonídio Sampaio. E, contando também no mesmo trabalho monográfico, ainda o poema Amém Felgueiras, um dos poucos textos em verso do próprio autor destas anotações – que fora anteriormente incluído na revista “Poetas de Todos os Tempos”, no seu n.º 14, ano 7, de Junho de 1996; e em 1998, aquando da Feira do Livro de Felgueiras desse ano, numa brochura denominada “Pão-de-Ló com Poesia”).
Ainda no mesmo “Memorial Histórico” ficou registado como curiosidade os nomes de Rita Verdial Ribeiro e Nuno Cristiano Pinto, dois jovens que venceram “ex-aequo” o «I Concurso de Poesia Francisco Sarmento Pimentel», levado a cabo pelo Futebol Clube da Longra em 1992. Cujos versos igualmente ficaram impressos no mesmo livro.
Por fim e por enquanto, já em 2008 teve luz uma interessante brochura sob título “Odes Félgicas”, com versos da autoria do Dr. Ernesto Rodrigues, residente de Varziela, no 2.º aniversário da Confraria do Vinho de Felgueiras e reunindo poemas dedicados a momentos relacionados a entronizações da mesma, em homenagem ao vinho e gastronomia felgueirenses.
À imagem graciosa de velho rifão, também na Vila da Longra... grande poeta é o povo!
Bib.: Excertos de um texto, para inserir num capítulo de futuro livro (onde serão incluídos todos os poetas do concelho de Felgueiras).
1 comentário:
Mais um, de novo, com que o blog vila da Longra entrou no Sapo Local. Continue.
Enviar um comentário