Não é despropositado nem exagerado afirmar-se esta constatação, atendendo à particularidade de ter havido contribuição Felgueirense, por meio de gente de terras da região do actual concelho, em guerras salientes dos primeiros reinados da nossa antiga Monarquia, assim como séculos volvidos no derrube desse regime, mais precisamente em 1910 na implantação da República proclamada a 5 de Outubro, tal como anos depois no golpe fatal de 13 de Fevereiro que acabou com a Monarquia do Norte, reimplantando o regime republicano em 1919, e ainda sangue descendente Felgueirense, décadas passadas, no 25 de Abril de que ressurgiu em 1974 a democracia.
Efectivamente, nos momentos mais contundentes Felgueiras lá esteve então. Para efeitos de evocação, ainda que relanceada, começa-se logo nos alvores da fundação nacional, atendendo à presença de um membro da família “dos de Sousa”, os Sousões, no acompanhamento de D. Afonso Henriques na luta pela independência do Condado Portucalense. Assim se passou com Soeiro Mendes de Sousa, “o Grosso” (irmão de D. Gonçalo Mendes de Sousa, o primeiro Sousão), tendo aquele nobre estado ao lado do então Príncipe Portucalense «no cerco de Guimarães. O seu papel de “adjuvante” do nosso primeiro rei, para utilizar uma expressão de V. Propp, surge com grande relevo na gesta de Afonso Henriques...» (conf. José Matoso-“Identificação de um País”). Também D. Gonçalo de Sousa, o Bom, foi lugar-tenente de D. Afonso Henriques, que acompanhou na batalha de Ourique, como depois esteve à conquista de Sevilha com D. Sancho I, de cuja peleja de Ajarafe tomou aos mouros algumas das bandeiras com que armou as paredes do mosteiro de Pombeiro (conf. Eduardo Freitas). Aliás são vários os exemplos de membros da família dos Sousões que se incorporaram em expedições dos primeiros reinados da nacionalidade, desde o acompanhamento na expedição contra os mouros em Elvas e na conquista de Lisboa, de que, aliás, D. Gonçalo Mendes de Sousa foi temporariamente governador, tendo o mesmo estado na conquista do Algarve, assim como D. Mendo de Sousa esteve incluído na defesa de Silves.
Já na era dos Descobrimentos, o “considerado Felgueirense” Nicolau Coelho esteve na descoberta do caminho marítimo para a Índia, sendo aí comandante da Nau Bérrio, da frota comandada por Vasco da Gama. A embarcação de 180 tonéis e 150 toneladas, pilotada por Pêro Escobar, sob comando do “fero Coelho” e com tripulação da zona de Entre Douro e Minho, partiu de Lisboa a 8 de Julho de 1497, e, depois de todas as peripécias da viagem, tendo as demais embarcações sido vítimas das águas de Cabo Verde em que o mau tempo assolou a armada de Gama, o Almirante encarregou Nicolau Coelho de trazer ao rei D. Manuel a novidade do sucesso da chegada ao Oriente, notícia grata que Coelho assim pôde transmitir por ter sido o primeiro a regressar a Lisboa. Depois, esse ilustre nauta participou também da descoberta do Brasil, em 1500, incluído na armada de Álvares Cabral, capitaneando navio que, inclusive, foi dos primeiros a aportar em Porto Seguro, sendo também Nicolau Coelho o primeiro a desembarcar, encarregado de se avistar com os Índios da terra de Vera Cruz.
A colonização brasileira, que se seguiu, teve ainda influência de gente de Felgueiras, através de D. António de Castelo Branco, que foi Senhor de Pombeiro. Ele foi um dos fidalgos que embarcou nos 26 navios enviados de Lisboa, Porto e Viana do Castelo para libertar a Baía da ocupação holandesa em 1625.
Após isso, depara-se mais tarde a colaboração conterrânea à transformação da Monarquia em República. Efeméride tão marcante que pelos tempos fora ficou assinalada em dia de feriado nacional do 5 de Outubro. Esse acontecimento ocorrido em 1910 representou profunda transformação na vida nacional, quer a nível político pela mudança do ceptro monárquico para o regime constitucional republicano, bem como a nível social por via do desenvolvimento surgido, segundo se nota na evolução repentina de hábitos e maneiras, além de formas de pensar e do próprio trajar, entre inúmeros casos. Felgueiras também teve, enfim, ligação a esse movimento da implantação da República: No terreno por meio da activa participação de João Sarmento Pimentel, então jovem que apesar de ser transmontano de nascimento era Felgueirense de residência, atendendo à sua estada mais regular em Felgueiras, habitante que foi na casa-mãe da sua família (solar da Torre, em Rande). E através de contribuição logística do Felgueirense Dr. António Pinto de Sampaio e Castro, político local de ideias republicanas.
(retrato pintado quando Capitão de Cavalaria militar – mais tarde promovido em General)
Com efeito João Sarmento Pimentel, como Cadete da Escola do Exército, tomou parte activa incorporando-se com armas na decisiva batalha da Rotunda, em Lisboa, dando o corpo ao manifesto da revolta do 5 de Outubro que implantou a Republica em Portugal. O Dr. António Sampaio Castro, personagem muito respeitado, contribuiu no movimento a modos que anonimamente, actuando na clandestinidade durante o último período da Monarquia. Sendo assim o Dr. António Castro grande activista político e amigo de João Sarmento Pimentel, ficou no conhecimento popular que o Cadete Militar, João da Torre, levara para Lisboa artesanais bombas feitas na Longra, na Casa do Dr. Castro, na Leira, de Rande (onde residia), pelo que se tornou lendário que algumas das primitivas cargas usadas na implantação da República foram originárias de Longra-Felgueiras!
Por tal motivo o Dr. Luís Gonzaga, figura de prestígio local e amigo dos dois personagens republicanos em apreço, escreveu no jornal de Felgueiras desse tempo a novidade, transmitida com grande ênfase a dar conta da participação do então Cadete João Pimentel no 5 de Outubro, conforme notícia inserta nesse Outono no periódico concelhio sob título “Um Bravo”. A vitória do 5 de Outubro foi mesmo aclamada publicamente em frente ao edifício onde funcionavam na época os Paços do Concelho, largo que por esse facto ficou durante longas décadas denominado como Praça 5 de Outubro (até que estranhamente o nome foi alterado em 1993 para Praça do Foral...).
Decorridas várias décadas de novo houve sangue Felgueirense noutra transformação político-social, com a mudança operada por meio do Movimento das Forças Armadas que realizou o 25 de Abril de 1974 - golpe que derrubou o regime totalitário saído do 28 de Maio de 1926, dando de novo a democracia à nação. Com efeito entre os oficiais da Comissão Coordenadora do M.F.A., que empreenderam a “Revolução dos Cravos”, estava o Capitão Sousa e Castro, filho de um Felgueirense-Longrino.
Rodrigo Sousa e Castro, o personagem em apreço, embora não tenha nascido em terras de Felgueiras, devido à deslocação derivada da vida profissional do progenitor, viveu na Longra grandes temporadas na sua infância, em casa do avô paterno António Sousa Gomes, pessoa de primeira linha da Longra de tempos áureos. Sendo o Capitão Sousa e Castro, depois Major, filho de Adriano Sousa e Castro, Felgueirense bairrista sempre fiel à sua naturalidade da então povoação da Longra e freguesia de Rande.
Felgueiras esteve assim com honra e glória nos grandes momentos da Grei acontecidos. E a Longra esteve incluída… e bem representada!
Trecho parcial / Pormenor visual de exposição onde constaram alguns dos referidos e outros Personagens locais da História, entre diversos temas – na Exposição “Memória Fotográfica de Rande”, realizada em 1996 na Casa do Povo da Longra…
© Armando Pinto
Bib.: Obras literárias do autor
1 comentário:
Mas cum diacho, a exposição de fotos deste ano não foi afinal a primeira na cpl ? - k disse um cartaz...
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