sábado, 25 de abril de 2009

70 ANOS DA CASA DO POVO DA LONGRA – FELGUEIRAS

Ocorrendo por estes dias a passagem da data jubilar de 70 anos de existência da Casa do Povo da Longra, virá a preceito uma “vista de olhos” pelo seu passado e, sobretudo, ao próprio significado – o que se apresenta, por esta via, inicialmente por uma resenha histórica, e depois através de uma crónica memorial. Com ilustrações de fotos da colecção particular do autor, algumas das quais insertas nalguns dos livros entretanto escritos, e outras, há alguns anos já, também com cópias colocadas na galeria histórico-fotográfica que o mesmo ofertou à casa em apreço.

Historial Resumido da Instituição
ora septuagenária:

Instituição criada por Despacho Ministerial de 26 de Abril de 1939, esteve sempre sediada na freguesia de Rande, à povoação da Longra, actual área central da Vila da Longra, no concelho de Felgueiras.

Esta instituição derivou de anterior existência de uma outra colectividade, a Associação Pró-Longra, existente desde 1928 até à sua substituição pela Casa do Povo.

Inicialmente desenvolveu a Casa do Povo da Longra actividade relacionada com corporativismo do sector rural, cumulativamente com vertente recreativa de lazer para os associados. Em 1941 criou um Posto Médico, primeira unidade de saúde ambulatória que existiu no concelho, daí derivando o Centro de Saúde da Longra ainda existente.

O grande mentor da criação da Casa do Povo: José Xavier Pereira da Costa (1882-1957)

Poeta e Activista cultural António Sousa Gomes – um dos obreiros da instalação da CPL

Galeria de antigos presidentes e outros dirigentes (em pormenor visual dum painel integrante da exposição alusiva aos 60 anos da instituição, em 1999).

Ao longo dos anos esta instituição exerceu forte influência na vivência das populações das redondezas, havendo servido de mesa de votos nas eleições do antigo regime, para as freguesias circundantes, a par com actividades culturais e formativas. Incluiu diversas versões de grupos de teatro, englobou uma formação da prática desportiva de basquetebol, proporcionou sessões de cinema, ministrou cursos de formação, etc. Após o 25 de Abril e instauração da democracia, sentiu as derivadas transformações sociais, sendo actualmente, após revitalização efectuada em 1994 e oficialização de 1996, uma Associação de fins socioculturais.

Presentemente possui um Grupo Folclórico, o Rancho Infantil e Juvenil da Casa do Povo da Longra, fundado em 1994; mais um Grupo de Teatro, criado em 1996; Grupo de Cavaquinhos, desde 2002; Grupo de Fados, fixado em 2004; e Grupo-Associação de Cicloturismo de Felgueiras, inserido em 2005. Além de outras valências, embora sem vínculo, presentemente, como aulas de aeróbica e ensino de danças, entre diversos casos.

Uma ilustração passada do Rancho da Casa do Povo da Longra

Grupo de Cavaquinhos da Casa do Povo da Longra (fundado em 2004) – pose de conjunto, em versão de 2006.

Uma das actuações do Grupo de Teatro da Associação Casa do Povo da Longra, no momento de representação no âmbito do programa comemorativo dos 60 anos da instituição-sede, em 1999.

Já teve esta Casa do Povo da Longra um museu etnográfico, em duas amplas salas, criado em 1999 e existente até Dezembro de 2006, mas entretanto desactivado parcialmente, ficando reduzido a um pequeno espaço. Enquanto a mesma Associação esteve na fundação de algumas mais-valias locais, como foi a organização pioneira do Carnaval da Longra e a criação da Feira da Longra, continuando depois nessas e outras organizações, em colaboração com realizações autárquicas e de representatividade local, desenvolvendo parceria na organização actual da Feira da Vila da Longra, no Carnaval da Longra, etc. e organiza espectáculos e outras actividades de índole diversa.
Casa do Povo da Longra:
Um Ex-Líbris local e do concelho

De sentido original, na locução latina, significando dentre os livros (e por extensão se ter generalizado como modo pelo qual o dono de um livro dava a entender que ele lhe pertencia), o termo ex-líbris associa-se a coisa de significado próprio, um identificativo pertence de marca respeitante a algo colectivo.
Em Felgueiras, concelho, e na região local em torno da Longra, há também gente a sentir o que identifica a sua unidade através do que nos revemos.

Antigas feições arquitectónicas do edifício-sede da Casa do Povo da Longra

Largo da Longra – Aspecto do centro da antiga povoação, na década dos anos 40, do séc. XX (ainda em tempos bucólicos da passagem de carro de bois pelas estradas). Vendo-se ao fundo o edifício da Casa do Povo, nas suas antigas feições.

Aspecto do exterior, com as atenções centradas em actividade num dia de festa na casa

Visão interior, de pioneiro aspecto da sala de espectáculos, em dia de cinema

Assim sendo, não será descabido considerar-se que entre os ex-líbris locais se possa contar a Casa do Povo da Longra, a mais antiga do género em Felgueiras, como instituição de apreciável existência e de acção relevante a nível concelhio. Cuja acção comunitária se repercutiu em boa dose do território, num mérito de que ainda beneficiam as freguesias vizinhas dessa Associação mítica de várias gerações.

Agremiação esta até agora com a soma de sessenta anos já ultrapassados, evento pela primeira vez comemorado em 1999, e na actualidade a completar setenta anos, cuja efeméride é então comemorada de 24 a 26 de Abril de 2009, no decurso da história da mesma instituição. A qual por tudo faz bem jus ao reconhecimento público pelo seu historial e valioso património cívico.

Vista ainda recente do edifício da C. P. L.

Ora, se recordar é (re)viver, vem a talhe relembrar uns salpicos de toda a riqueza humana que a mesma aspergiu ao longo dos anos, com saliência para as benesses da previdência rural e geral prestada a numerosa população, sem necessidade de se quantificarem os momentos altos presentes na memória colectiva, para que haja justeza ao sentimento que não deixa indiferente uma população orgulhosa da sua solidária longevidade.

Uma imagem identificativa da representatividade de CPL no panorama concelhio ao longo dos tempos: Sessão solene, em 1957, que contou com os então Presidente e Vice-Presidente da Câmara de Felgueiras, respectivamente Dr. José de Castro Leal de Faria e sr. Antero Teixeira da Cunha, em primeiro plano - ao canto direito da fotografia, ou seja, pela ordem referida, terceiro e quarto personagens a contar da esquerda. Tratando-se de evento dedicado a entrega pública de agasalhos e géneros alimentícios a pessoas necessitadas, em tempo do chamado Estado Novo, a cujo acto esteve presente um Deputado da Nação (Dr. Santos Bessa, ladeado por individualidades locais, de um lado pelos referidos titulares municipais e do outro pelo presidente da Casa do Povo da Longra nesse tempo, Dr. Maltez).

Em traços gerais, podem aludir-se realizações lúdicas, de congregação popular, até iniciativas altruístas, sempre com horizontes diversificados, tendo influenciado sobremaneira o modo de viver do povo da região e quiçá até mentalidades. Quem desconhecer a sua folha de serviços poderá admirar-se desta certeza, mas não quem sentiu a sua vitalidade. A título de exemplo poderá referir-se que a casa proporcionou sessões de cinema, aos sócios e familiares, quando o povo apenas conhecia a galena e a rádio se começava a implantar. Desenvolveu actividade desportiva de alternativa ao trabalho, criou um Posto Médico local em época ambulatória cingida aos então dois estabelecimentos das Misericórdias do concelho (sabendo-se que existiram hospitais do Unhão e Felgueiras, relembre-se). Isto apenas em referências dadas de relance, havendo pormenores não menos capazes de vincar zelo, desde distribuição de significativas quantidades de géneros alimentares e agasalhos, a par com distracções, de que sabe bem recordar espectáculos de teatro, facultação de cursos à população, enfim, chegando ao ponto de ter havido dotação de aparelho televisivo, para visionamento público, quase desde o surgimento daquela “caixa mágica” que ao tempo ainda demorou muito a ser moda.

Recordação (cartão de desportista) da existência da secção de basquetebol na Casa do Povo – documento oferecido, pelo próprio antigo dirigente e atleta, ao autor.

Além de característica representativa da memória e dos interesses da região, tendo existido em suas instalações um museu etnográfico da área circundante, expondo raridades e testemunhos de outras eras da vida local; como preservava as recordações próprias através de galeria foto-documental que exibia (tendo essas molduras, depois, sido distribuídas a decorar alguns compartimentos, a partir de 2007), sendo casa com muita História; tal qual tem vitrina de exposição bibliográfica de obras apresentadas na instituição; e tem tido posições de representatividade, conforme tomadas de posição e apelações entretanto oficiadas a entidades, visando salvaguarda de direitos das populações. Etc. etc. Enquanto institucionalmente foi vivendo sempre do carolismo de aficionados, sem recursos monetários capazes de provocar outra dinâmica.

De relevar ainda as inúmeras iniciativas que tiveram lugar na casa, com retaguarda dos interesses locais, como a 1ª Exposição da Memória Etnográfica da Longra, em 1995, a Semana Cultural / Mostra Filatélica e Documental, em 1995, a Exposição da Memória Fotográfica de Rande, em 1996, a Exposição do 60º aniversário da Casa do Povo, em 1999, outra comemorativa do 7º aniversário do Rancho, em 2001, etc.


Vista parcial da 1ª exposição filatélica realizada no concelho de Felgueiras – Mostra da Casa do Povo da Longra/95

No dia da Abertura da I Mostra Filatélica da Longra – chegada, à Casa do Povo, do cortejo etnográfico a recrear a Mala-Posta (relacionando ao tempo da abertura da Estação do Correio da Longra, a que respeitava uma das comemorações paralelas). Ao canto superior esquerdo da foto ficou obliterado o respectivo carimbo comemorativo, editado na ocasião.

... E concentração popular, em frente ao edifício, para ver um voo simbólico, quando depois, conforme programado, uma avioneta sobrevoou a Longra, relembrando a viagem pioneira do personagem que estava também a ser homenageado, no centenário de Francisco Sarmento Pimentel.

1997 - Recepção oficial, com elementos directivos de todos os órgãos e secções, na recepção ao Bispo-Auxiliar da diocese do Porto, em visita à instituição.


D. João Miranda Teixeira, no descerramento de lápide que ficou a assinalar honrosa visita à Associação Casa do Povo da Longra, em Abril de 1997, no âmbito da também Visita Pastoral a Rande que decorreu nessa época.

Dois aspectos de uma desfolhada tradicional, recreada pelo Rancho da Casa do Povo da Longra, em 2003


Desfolhada particular, no caso numa propriedade de um antigo elemento do Rancho, com gente do Rancho e do Teatro da Casa do Povo da Longra.

Desfile de Carnaval da Longra, em 2000, num dos anos iniciais, à quarta edição, ainda com organização de iniciativa da Associação Casa do Povo da Longra.

Conjunto de membros do Grupo de Teatro da Casa do Povo da Longra, em representação alusiva, como participantes no Desfile da Noite das Bruxas, pela Longra, na passagem de 31 de Outubro para 1 de Novembro – em 2002.

Algumas alfaias (como antigo carro de semeadura, arado de abrir valeiras, de que se vislumbra apenas silhueta, na foto) e artefactos (sarilho, dobadoura, fusos, tomentos, roca, etc.) do ciclo do linho – conforme parcialmente se podia ver no antigo espólio do museu memorial e etnográfico na Casa do Povo da Longra

A importância identificativa dos típicos espigueiros, quanto à representatividade da região, fica patente em diversos grupos o considerarem emblemático, como acontecia com o Rancho da Casa do Povo da Longra, conforme pose de conjunto em que se fez questão de fixar à posteridade um “retrato de família” junto ao espigueiro que, enquanto esteve em funções a respectiva gerência fundadora, existiu no museu da colectividade…

Recreação da antiga matança, com trajes típicos da lavoura de épocas passadas, feita alegoricamente em 2004 pelo Rancho da Casa do Povo da Longra, através de respectivo pessoal do coro e tocata (naturalmente, visto o mesmo agrupamento ser infanto-juvenil).

Sequência de imagens da exposição comemorativa do Sexagenário da CPL, em 1999

A efeméride do Sexagenário, referência assinalável da respectiva existência, ficou para sempre perpetuada em medalha comemorativa cunhada para a ocasião e por publicação de pequeno livro editado em 1999 (“Associação Casa do Povo da Longra-60 Anos ao Serviço do Povo”), a assinalar a passagem do evento, à posteridade – e a historiar tudo o que lhe é relacionado.


Desta feita, conforme programa delineado, os setenta anos são igualmente comemorados, dentro da orgânica vigente.
Resumindo e concluindo, passada além das sete dezenas de anos a existência desta instituição, é a ocorrência motivo de reflexão de todos os que se importam com valias do espírito.


Descerramento (pelo palestrante Cón. Dr. Ângelo Alves, na companhia do Presidente em Exercício da Câmara de Felgueiras e pelo Presidente da Associação organizadora), da lápide alusiva, que ficou a assinalar a primeira conferência realizada na Casa do Povo da Longra, dedicada a um personagem ilustre natural da região Padre Luís Rodrigues, na mais representativa Associação local – Novembro de 2004.

Mesa da Conferência sobre o Padre Luís Rodrigues, na Casa do Povo da Longra: O conferencista, Dr. Ângelo Alves, no uso da palavra, ladeado pelo então presidente da instituição, pelo pároco de Rande, mais o Presidente da Câmara em exercício e o presidente da Junta de Rande.

Bolo comemorativo dos 60 anos da CPL

©ARMANDO PINTO

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