quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

MEMÓRIA DO CARNAVAL DA LONGRA

No próximo dia 5 de Fevereiro vai ter continuidade o já famoso Carnaval da Vila da Longra, em mais uma edição que dará sequência à organização que ganhou foros de tradição local e concelhia.
Efectivamente, foi no ano de 1997 que começou a ser organizado o chamado Carnaval da Longra, através de desfile do Corso Longrino e demais números do programa, desde concurso de figurantes, velório, enterro do entrudo, leitura do testamento e cremação alusiva.

Virá a talhe, a propósito, um rememorando de memória, pois que o tema merece uma retrospectiva, para enquadramento.
Recuando a tempos anteriores, então, era deveras diferente o panorama: Antigamente, de ligação às diversas tradições de Entrudo, havia pequenas amostras carnavalescas espontâneas, sobretudo por meio de passeios de mascarados, individualmente e em grupos, por quase todas as terras da região, pelo menos as localidades mais importantes do concelho. A nível organizado, de quando em vez surgiam de tarde, no próprio dia, minúsculos cortejos populares e por norma, ao findar o dia, havia habitualmente o enterro, por iniciativas particulares mas sempre com grande entusiasmo público.

Corso Carnavalesco de 1997


Na evolução dos tempos, a partir de meio dos anos oitenta, do século XX, começou a haver na então vila de Felgueiras pequenos cortejos com crianças de estabelecimentos de ensino oriundos de diversas freguesias do concelho; até que em finais dessa década de oitenta passou a ser organizado oficialmente o chamado Corso, cortejo em estilo de marchas alusivas, com alguns carros alegóricos alugados e outros enfeitados por iniciativa de associações e entidades de algumas freguesias. Desfile esse que, organizado por comissão vinculada à Câmara Municipal, de ano para ano foi evoluindo e aumentando, ao ponto de nalguns anos ter inclusive metido escolas de samba contratadas.


Carnaval de 1998



Na Longra, onde desde 1997 houve organizado desfile, através de iniciativa de Isabel Costa e Armando Pinto, em colaboração com outros membros da Associação Casa do Povo da Longra (sendo assim oficialmente dado o título organizativo à mesma instituição), o Corso era feito no Domingo Gordo, de modo a que não colidisse com o da cidade de Felgueiras. Com o qual a organização Longrina colaborava anualmente, indo todos os anos uma forte representação da Longra engrossar o Carnaval de Felgueiras. Contudo o entusiasmo e poderio económico Felgueirense decresceu repentinamente, realizando-se o último Corso de Felgueiras em 2002, até agora, e nesse ano já quase só graças à participação de representações da Longra e Jugueiros... Assim, tendo em 2003 deixado de se fazer o Carnaval da cidade de Felgueiras (com excepção de passeios carnavalescos de crianças das escolas, na sexta-feira anterior), ainda nesse ano se fez na Longra o referido desfile no domingo antecedente, ao passo que em Jugueiros foi já realizado no dia próprio, embora à escala local.

Carnaval de 2003



Ora, atendendo à falta do Corso de Felgueiras, logo em 2004 o Desfile Carnavalesco de maior impacto teve lugar na Longra, então já vila, na própria terça-feira de Carnaval, passando a ter organização, ainda, da Casa do Povo da Longra mas já em parceria com duas das Juntas e uma outra Associação das Freguesias da área da vila. Até que, depois, passaram a ser três Juntas incluídas na responsabilidade organizativa, em anos seguintes.

Para a história ficou, sobremaneira, o Carnaval de 2004, por ser o primeiro da Longra como vila, com organização conjunta de representantes das Forças Vivas da área e especialmente pelo sucesso obtido, publicamente. Ora, nesse ano e no próprio dia, contrariando o tempo cinzento que se fez sentir, sem contudo meter água de chuva no aspecto meteorológico nem de responsabilidade própria, e suplantando até a falta de realizações festivas nos maiores centros urbanos do concelho, houve efectivamente Carnaval em Felgueiras, por via do surpreendente e muito concorrido Carnaval da Longra/2004. Acontecimento colorido e animado para milhares de pessoas que se aglomeraram ante a passagem do extenso desfile carnavalesco Longrino, tal qual depois para a multidão que também incorporou o nocturno percurso folgazão.



Carnaval da Vila da Longra 2004

Com efeito, foi uma autêntica revelação o Carnaval da Vila da Longra, ocorrido em pleno dia de Entrudo. A mais jovem vila do concelho de Felgueiras, desse modo, teve durante esse dia uma das maiores afluências humanas. A Longra sem qualquer ponta de dúvida foi então o centro de confluência das gentes de Felgueiras.
Numa organização conjunta da Associação Casa do Povo da Longra, Juntas das Freguesias de Rande e da Pedreira, mais Associação Cultural e Recreativa de Sernande, houve oportunidade, com tal realização, de demonstrar o quanto a região é capaz de se manifestar, positivamente. E, sobretudo, de vincar o ponto fulcral que a Longra representa, de como a Longra é polo de convergência, núcleo importante de movimento e acção como é, sendo a Longra núcleo de interesse e afinidade, merecendo bem o título que o Carnaval da Longra mereceu na comunicação social concelhia como cabeça de cartaz no concelho de Felgueiras.
Só se viam cabeças, no dizer de muita gente, tal foi a assistência que se amontoou para presenciar o surpreendente corso ao longo do seu percurso, naquela tarde. Surpreendendo assim quem julgava tratar-se de coisa simples, ao modo como foi menosprezada pelas forças de segurança a necessidade de corte e desvios do trânsito automóvel (a pontos de se ter verificado estranho caos no ordenamento viário e consequente fluidez na evolução do desfile), bem como outros tratamentos para com peripécias próprias da ocasião. Porque, nesse ano, o Carnaval da Longra, sendo algo feito para brincar, naturalmente, já não foi brincadeira nenhuma. Teve sim mística muito a sério, no sentido de realização oficial e natural. Ficando, com tudo isso, aviso à navegação para o futuro, de forma a que não sejam subvalorizadas organizações públicas da Longra, inclusive com maior interesse de entidades concelhias a quem não basta marcar presença pontual, quando calha ou convém...


Carnaval de 2005



Por estas e outras o Carnaval da Vila da Longra/2004 transformou-se num evento histórico, quer de tarde com o desfile tradicional, como de noite no velório, enterro do Entrudo (em que se notou a já há muito verificada falta de iluminação pública condizente...), até à leitura do testamento e encerramento pirotécnico, conforme a praxe, revelando-se instrumento de ligação populacional derivada do aconchego local, tamanho o fluxo de gente que concentrou, marcando época do primeiro ano da Longra como vila. Na senda de anteriores organizações, que desde 1997 tiveram lugar por iniciativa da Associação Casa do Povo da Longra (nalguns anos organizado pelo respectivo Grupo de Teatro e noutros pela Direcção da mesma Associação), cuja sequência, a partir do Carnaval de 2004, depois da criação da Vila da Longra, teve horizontes mais vastos, alargada a responsabilidade organizativa a entidades de três das freguesias da nova vila, com excepção de Varziela (...). Na continuidade, porém, a Junta de Sernande também se afastou em 2006 (embora, no mesmo ano, retornasse à parceria na responsabilidade da comemoração do aniversário da vila, organização de seguintes feiras e, naturalmente, do Carnaval de 2007 e, agora, de 2008 obviamente); enquanto a de Varziela, apesar da mudança verificada de pessoas nos cargos, continuou quieta e calada. Factos que só a História poderá explicar melhor no futuro...

Carnaval de 2005


Carnaval de 2006

Carnaval de 2007

Interessando fixar o dinamismo entusiasta da iniciativa, volta-se à ideia mestra. Acção essa, da realização referida, que, além da parte recreativa e cultural, faz emergir a importância do ponto estratégico que simboliza a Longra na área sul do concelho, sacudindo a indiferença com que, por exemplo, é desleixada premência da vila começar a sentir efeitos de limpeza regular, falta notada sistematicamente (e ainda mais nos despojos do Corso, como noutras ocasiões obviamente), sem esquecer esperadas dotações institucionais. Tudo porque o sítio em apreço, que como se sabe teve saliência maior em tempos idos e apenas recebeu justo reconhecimento já tardiamente, poderá não ser agora um centro mais desenvolto, por inércia antiga do poder de decisão, mas certamente deverá vir a sê-lo se receber devidas compensações para acertar o passo ao progresso. Pois, como escreveu Garrett nas “Viagens da Minha Terra”, sobre um outro vale e que aqui se ajusta perfeitamente, «não há ali nada de sublime, mas um equilíbrio...»
Nos anos seguintes tem-se mantido, entretanto e para já, a tradição do Carnaval da Longra, organizado pelas Juntas de Freguesia de Rande, da Pedreira, de Sernande e pela Associação Casa do Povo da Longra.
Confirmada assim a apetência da Longra em servir de chamariz entusiasta, urge dotá-la de melhores condições, atendendo ao significado do coração verdadeiro da nova vila, o Largo da Longra que sempre desempenhou afirmativo e identificativo local de encontro da antiga povoação. Que bem justifica uma intervenção urbana no centro da nova vila, consoante as tradições e os direitos históricos lhe fazem jus. Como de resto as artérias circundantes e tudo o mais que clama por um programa de requalificação urbanística. Objectivo que bem merece um irmanado esforço das verdadeiras Forças Vivas locais, em chamadas de atenção, projectos e programas conjuntos, a olhar mais para os interesses da terra.


A Longra precisa de mais acção, de trabalho em prol do seu progresso efectivo, pois as lacunas persistem e não é com acções voltadas para outros horizontes que a situação melhora. Isto e o mais, quando se escrevem estes considerandos, mas teme-se que se continue a aplicar muito depois, neste andar, infelizmente.
É que se no Carnaval ninguém leva a mal, já não será bem assim depois, quanto mais no aproximar de futuras decisões, olhando ao que estiver mal e continue na mesma...!

- © Armando Pinto = bibliografia:
livros “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras” (1997) e “Elevação da Longra a Vila” (2003), mais jornal “Vila da Longra” (2006) =

5 comentários:

Anónimo disse...

Aplaudido!!!!!!

Muito bem!!!!

E assim se começou o Carnaval da Longra!!!!

Sem direitos reservados, mas com muita garra, animaçao e trabalho de coração!!!

Anónimo disse...

É assim mesmo.
QUEM SABE, SABE.
Ainda há e houve quem gosta da Longra sem outros interesses.
Parabéns pela bonita crónica.
Sabe bem recordar e ficar a saber mais.
Venha mais disto.

Anónimo disse...

Quando justifica uma intervenção urbana no centro da nova vila, só podia estar de pleno acordo, Longra precisa urgentemente de uma requalificação urbanística, e não venham dizer para a comunicação social que, o problema é só da Câmara. Venham para o terreno, ver e ouvir o que de mal está na Longra

Anónimo disse...

E também se pode dizer que pouco importa haver interessados em protagonismos, de fora, mas também de dentro, entre quem presentemente desempenha funções, interessa é que pensem na terra que representam e /ou de que esperam qualquer coisinha. Realmente têm de andar cá fora e abrir os olhos e ouvidos.

Anónimo disse...

Parabens pelos 11 - onze anos de vida do Carnaval da Longra...