segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

ARMANDO PINTO FALA DA LONGRA E DO SEU LIVRO AO SEMANÁRIO DE FELGUEIRAS

"Há cada vez mais pessoas na Longra que pensam que quem está na Câmara não gosta da Vila"
www.semanariofelgueiras.pT


Semanário de Felgueiras (SF) – Após dez anos do aparecimento do seu primeiro livro: Como surgiu a ideia de publicar um livro, neste caso inédito, sobre a história do futebol em Felgueiras e de dois dos seus mais representativos clubes?
Armando Pinto (AP) - Como é sabido tinha escrito já alguns trabalhos historiadores, sobre a chamada memória colectiva. Até porque faz dez anos este mês que publiquei o meu primeiro livro. Sou apreciador de valores culturais de âmbito histórico, etnográfico, antropológico, etc., mas também sou apaixonado de desporto. Nessa linha teve sequência este livro, sintetizado no título da “História do Futebol de Felgueiras-Nas Fintas do Tempo”, que é fruto do interesse que desde criança esse baluarte que foi o Clube de Felgueiras sempre despertou em mim, desde que comecei a ir ao antigo campo ver os Sabú, Caiçara e C.ª, passando por momentos inesquecíveis que esse autêntico símbolo concelhio representou na auto-estima Felgueirense, mais o apogeu que significou a estada no escalão máximo do futebol português. Cuja ligação sofreu rude golpe com o desaparecimento da histórica colectividade. Eu tinha feito um estudo documental alusivo, do qual fiz um reduzidíssimo memorando em dois artigos publicados aqui há alguns anos no Semanário de Felgueiras, como de permeio deixei algumas dessas anotações intrometidas numa crónica sobre Pergaminhos Desportivos Felgueirenses, abrangente a diversas modalidades, no livro oficial das Festas da Lixa (“Lixa Cidade de Ontem e Hoje-Nossa Senhora das Vitórias/2000”); contudo notava que era preciso algo mais. Com a extinção do FCF reparei que a memória do histórico “Felgueiras” estava a desaparecer, correndo-se o risco das novas gerações nem se aperceberem de quão importante foi o seu percurso e rico o respectivo historial. Então, com o renascimento do futebol a nível distrital, em vista do aparecimento do CAF, acrescido do que foi acontecendo a fintar os propósitos, achei que era ocasião de passar a letra de forma o memorial futebolístico local, ainda que sem maior desenvolvimento para redução de custos da publicação, visto ser edição de autor. Embora sem qualquer comprometimento, como friso no preâmbulo do livro, mas com ideia de fazer qualquer coisa que ficasse, de modo a que todos os Felgueirenses tenham conhecimento e se possam orgulhar, para sempre. Sendo historiados os dois clubes mais representativos do nome de Felgueiras, o antigo e o sucessor, por o panorama descrito se reportar de 1932 até Junho de 2007, quando não havia ainda mais outra equipa sénior concorrente.
SF - Como está a ser a aceitação do seu livro pelo público? Há algum público preferencial? Como tem sentido o interesse dos leitores?
AP - A aceitação tem sido boa, apenas que a actual falta de poder de compra e fraco hábito de leitura por estas bandas, como algum desapego cultural, também, não têm feito com que haja total correspondência entre o interesse e as aquisições. Mas também outras situações concorrentes, chegando a haver, ao que me apercebi já, interessados que até pediram o livro emprestado a outros que o obtiveram, entretanto... Quando se trata de um livro para ser possuído e estar à mão de inerente consulta. O público, no fundo, é todo aquele que gosta da nossa terra e de tudo o que lhe diz respeito, sobretudo os que apreciam mais os valores dignos de perdurarem. Quanto na prática, do que tenho sentido, prova o interesse dos leitores, a pontos de, como tive ocasião de reparar, quantas vezes o conteúdo deste livro ter sido tema de conversas em cafés e demais locais de tertúlias bairristas.
SF - Oficialmente já alguém lhe deu os parabéns pela iniciativa de escrever e de ter “feito história” ao registar o que até então não estava registado sobre a vida do extinto Futebol Clube de Felgueiras?
AP - A nível oficial e clubístico não tive ainda quaisquer reacções ao facto, unicamente tomei conhecimento de apreciações várias que me chegaram por via particular, em ecos de transmissões. Mas não procuro louros, como em qualquer coisa do que faço, colocando a terra acima de tudo. Sendo estudioso da história local, interessa-me procurar dignificar o concelho que me serviu de berço e onde vivo intensamente tudo o que me seduz. Despretensiosamente, como tenho por feitio andar de forma discreta.
SF- Sobre a Longra, como vê a sua terra, cinco anos após a elevação a vila?
AP - Infelizmente, continua sem nada que indicie progresso por acção oficial, nem benefícios da elevação a vila. E já passaram quase cinco anos de travessia árida. Na Longra cada vez o povo se convence mais que quem está na Câmara de Felgueiras não gosta mesmo nada da Longra. Então, se Barrosas teve obras de requalificação urbana logo após a sua passagem a vila, porque é que a Longra não merece idêntico tratamento?! Ao invés, o que se nota é um total desprezo... Mas sobre isso os políticos, os autarcas representativos e os das oposições é que se devem pronunciar mais, embora eu, como entusiasta, me manifeste também dentro do possível, quando surge uma oportunidade, como esta. Contudo, a haver obras que sejam para melhorar e não estragar, feitas com um devido plano, para não acontecer como recentemente ocorreu na igreja paroquial de Rande... Porque deve ser respeitado o património que é de todos e não de alguns apenas. Aspecto a ter em conta também por quem não vive na localidade, quando algo for projectado ou realizado, de modo a que os interesses locais sejam salvaguardados. Pode parecer demasiado, mas a terra afectiva é algo especial para quem a sente.
SF - E a Associação da Casa do Povo da Longra, da qual foi presidente durante vários anos?
AP - Efectivamente estive na C P L durante cerca de treze anos como dirigente, primeiro a Vice-presidente e depois mais de dez anos como Presidente da Direcção, sempre a dar o melhor que pude, ali, onde durante os meus sucessivos Exercícios se realizaram acontecimentos dignos de nota, como está registado, de permeio com acções feitas para ficarem. Tanto, como em verdade tem de ser recordado, quando fundei o Rancho folclórico (junto com minha esposa, no caso), de seguida organizei exposições, estive envolvido em homenagens a personagens históricas da terra, criei o museu etnográfico, ajudei a fundar o Grupo de Teatro, criei o Grupo de Cavaquinhos, além de que tive iniciativas várias de preservação da memória histórica da agremiação (pois, entre possíveis outros exemplos, se não fosse eu a CPL, que existe há perto de 69 anos, não tinha sequer de sua história uma única fotografia preservada, emoldurada e colocada publicamente, nem os seus factos históricos narrados); e mais, tive parcerias com a Junta de Freguesia e outras entidades, como nos exemplos da abertura do ATL e colocação da Caixa ATM (Multibanco), algo que muito faltava na Longra; bem como consegui que o Centro de Saúde não saísse da Longra, como se sabe; tal como estive no arranque da nova Feira da Longra e na organização do desfile do Carnaval Longrino, dei também uma mão na fixação do Grupo de Fados, de braços abertos aceitei a inclusão da Associação de Cicloturismo, consegui, em suma, com que a Longra tivesse outros horizontes através desta sua Associação.
Retirei-me depois, por iniciativa própria, derivado a certas coisas que estavam a acontecer e em local próprio exprimi. Ultimamente, não tenho marcado presença nos eventos recentes por preferir não sofrer, pois o que os olhos não virem o coração não sente... Com mágoa, noto que a instituição em causa está a perder a olhos vistos anterior ligação à terra, como tem sido evidente em iniciativas que nada dizem ao povo da região, e através de modificações desajustadas tem acontecido como que um desapertar dos antigos laços de estreitamento ao povo comum, que deveria ser o alvo primordial. Quando se muda apenas por mudar nunca resulta bem. Basta reparar no facto de terem destruído o museu etnográfico ali existente, que com tanto esforço, dedicação e entusiasmo conseguimos reunir, através de recolhas efectuadas por diversos elementos, acontecendo que agora, o que estava guardado e exposto em duas amplas salas, passasse a figurar simplesmente num único e acanhado compartimento, onde não coube o espigueiro colmasso que havia a representar antigo ex-libris local, desfeito por quem não soube distinguir o que é genuíno... e sem justificação, muito menos para a criação de salas de não sei quê, para o que não faltavam espaços... Algo que está a ser reeditado com mais desanexações, sobretudo do que estará em vias de acontecer com o Grupo de Teatro da casa...
Além de outras ocorrências que têm originado mal-entendidos entre quem gosta e trabalha pela terra. E distanciamento sobre anteriores realizações tradicionais, como no caso do churrasco-convívio no aniversário da vila, acontecimento-mor da efeméride e que marcou nos primeiros anos a cooperação organizativa das Forças Vivas locais, pois que a Longra é de todos. Enfim. Mas ainda tenho fé que aquilo melhore. Só desejo que os erros sejam reconhecidos e ultrapassados, e futuramente a instituição volte a trilhar o rumo certo, a bem da terra.

Noticia: Semanário de Felgueiras

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