Ora, no tema dos nomes toponímicos, depois que foram atribuídos os chamados números de polícia, ou seja a numeração das portas e vãos de entradas das habitações, e estando oficializados os nomes das ruas, antes de ser colocadas as necessárias placas identificativas, começam agora a haver mudanças nas atribuições das moradas, apesar de ainda não haver, na prática, visibilidade desses atributos, podendo a correspondência ser extraviada por exemplo, à falta da sinalética respectiva.
Seja como for, enquanto isso, o caso merece que a população se inteire da dimensão dessa realidade, alem da função identificativa, também pelo preito de homenagem que por essa via se presta a nossos maiores, sabendo-se que é de memórias que se faz o passado de todos nós, individual e colectivo, pois do conhecimento do passado é que todos devemos alimentar a nossa história, a identidade do que nos une, do que foi dos que nos antecederam e presentemente é nosso, devendo ser legado aos vindouros.
Antigo pormenor do Largo da Longra, ainda de terra batida, em tempos dum primitivo táxi da localidade – vendo-se partes da casa da Loja da Ramadinha e da casa anterior do correio, muito antes da construção do típico fontanário local – nos primórdios do séc. XX
Largo da Longra, centro tradicional e original da Vila da Longra – em inícios do séc. XXI
Indo assim à questão da toponímia:
Tal maneira de afirmação identificativa da nossa memória, em forma de gratidão ao mérito de personalidades salientes da história local e memória colectiva, será por conseguinte um galardão de orgulho a legar ao futuro.
Ora, porque as situações devem ser conhecidas, salvaguardando antecipadamente o autor quaisquer posições por simples interesse da terra (já que não se encontra envolvido em lutas eleitorais!), passa-se a uma cronologia e explicação de factos, já históricos, a nível local.
Pois então, com esse fito, no raiar de 2002, corria o mês de Março, foi criada uma Comissão para o Ordenamento Toponímico de Rande, escolhida pela Junta de Freguesia, em espécie de equipa formada por grupo genérico de que faziam parte um antigo autarca local, uma outra pessoa de certa idade representativa da população experiente, da parte média-alta de Rande; um estudioso da história regional, e um elemento representativo da Junta de Freguesia, também da Longra; comissão que depressa apresentou o respectivo estudo concluído, depois do necessário labor. Tendo sido desenvolvido o processo da inventariação das vias de comunicação e atribuição dos nomes no espaço de um mês, de cujo trabalho o próprio autor elaborou as relações devidas, escriturou as actas e oficiou o relatório de informação e conclusão. O que foi entregue à Junta de Freguesia a 11 de Abril imediato, acontecendo depois que esse documento teve aprovação por unanimidade em sessão ordinária da Assembleia de Freguesia de Rande seguida a 23 de Abril e foi entregue na Câmara Municipal de Felgueiras a 30 do mesmo mês de 2002. Ficando desde aí à espera da definitiva aprovação pública. Posteriormente, já em Outubro de 2003, a Câmara propôs algumas alterações pontuais ao que fora indicado pela Comissão respectiva, tendo de seguida, para legalização formal, procedido à nomeação de uma outra comissão, mais “pró-forma”, constituída por elementos de representatividade municipal, para a consumação necessária – incluindo dois vereadores municipais, um técnico superior do Plano Director Municipal, a responsável da Biblioteca Municipal de Felgueiras e os Presidentes da Junta e da Assembleia de Rande. Então, só após um funcionário municipal ter sido encarregado de ultimar o processo, em Setembro de 2004, foi finalmente encaminhada uma proposta alterada – tendo havido dela aprovação pela Câmara em Outubro imediato, com a natural concordância da representação da freguesia em questão..
Antes, o trabalho da comissão original tivera em consideração atender, para o caso dos nomes atribuíveis, apenas pessoas já falecidas, apesar de porventura poderem existir outros dignos dessa honra, de modo a evitar-se possíveis mal entendidos e quiçá polémicas desnecessárias. Nesses casos de pessoas presentemente ainda vivas, felizmente, e outras ocorrências na ocasião não contempladas, poderá no futuro ser feita actualização em altura oportuna de possível reordenamento toponímico.
Também se achou preferível nomear só pessoas que hajam desenvolvido acção de utilidade para a terra natal ou afectiva, ou seja de pessoas nascidas ou que residiram na freguesia, e dentro dos conhecimentos possíveis abarcando gente de todas as épocas, com excepção única para o antigo e carismático Presidente da Câmara, Dr. Machado de Matos, por ter sido individualidade que pugnou pela melhoria de qualidade de vida desta freguesia, também.
Desta forma foi decidido não escolher personalidades históricas nacionais, ou seja figuras da Pátria, nem tão pouco datas de acontecimentos nacionais, precisamente para se poder homenagear personagens da história local.
Pretendeu-se assim prestar serviço de utilidade comunitária para melhor identificação das artérias da freguesia e precisão a serviços e endereços postais, aproveitando para homenagear personagens, personalidades e instituições de currículo saliente da vida e história local, fazendo com que os munícipes desta freguesia se sintam mais unidos e se revejam na mística territorial.
(Prescindindo-se de enumerar os diversos arruamentos e caminhos, dos quais na altura foi feito o devido levantamento, incluindo a Proposta de nomes correspondentes para atribuição toponímica dessas vias de acesso de Rande – passa-se ao desenvolvimento da caracterização dos nomes então propostos, para cotejo à posteridade):
Justificação dos
Nomes Propostos para atribuição toponímica:
- S. Tiago – Santo Padroeiro da Paróquia.
- Saudade – alusiva ao sentimento representativo do cemitério paroquial.
- D. Rando – fundador da propriedade Randi Villa, da qual proveio o nome da freguesia.
- Miguel Peixoto (Coelho) – Primeiro Senhor das terras de Felgueiras e do Padroado de Rande, por doação de D. Sancho I.
- Frei João Mendonça – Cavaleiro professo da Ordem de Cristo, antigo proprietário da Casa de Rande e construtor de antigas capelas de devoção popular, que existiram antigamente na freguesia.
- Abade Pêro Fernandes – pároco em cujo exercício paroquial houve, em 1509, o reconhecimento oficial escrito de delimitações da paróquia de Rande, com as vizinhas ao tempo.
- Reitor Manuel de Barros Coelho – Reitor de Rande, como era conhecido por ser representante do clero da região, e pároco que escriturou as posses da paróquia através do “Tombo de São Thiago de Rande”, em 1743.
- António Teixeira Passos – fundador da capela das Alminhas da Renda de Santiago e mentor da antiga Confraria das Almas da paróquia, conforme a Memória Paroquial de 1758.
- Padre António Peixoto d’Azevedo – mentor da oficialização documental de diversas facetas da vida local, vulgo usos e costumes de tradições, assim como foi em seu mandato de presidente da Junta da Paróquia que foi edificado o Cemitério paroquial.
- Luís de Barbosa Mendonça – Vereador da Câmara Municipal, no século XIX.
- Paulino Xavier da Costa – Membro do Conselho Municipal no séc. XIX.
- Conselheiro Dr. António Mendonça – Presidente da Câmara Municipal de Felgueiras no mandato de transição dos séculos XIX ao XX, benemérito local (por exemplo, c/ doação do terreno para a construção da sede da Associação Pró-Longra, depois Casa do Povo, bem como para a primeira cabina eléctrica da freguesia), além de jornalista e político.
- Dr. António Sampaio Castro – antigo Administrador do Concelho em Felgueiras, membro da Direcção da Associação Pró-Longra e da Comissão Instaladora da Casa do Povo da Longra.
- Luís de Sousa Teixeira – edificador do conjunto inicial de nichos do pequeno santuário do Monte de Santana, de cuja mata (incluída na Quinta da Bouça, de Rande) era proprietário. Personagem também ligado a muitas comissões e à Junta de Freguesia de Rande, onde ocupou diversos cargos e inclusive a presidência, durante longos anos.
- Luís Gonçalves – antigo Presidente da Junta de Freguesia de Rande, tendo sido em seu mandato que foi aberto, em 1915, o primeiro livro oficial de actas, e sido desenhador que ofereceu o projecto para a construção do edifício-sede da Pró-Longra.
- Guilhermina Mendonça / popular “Menina de Rande” – admirada e considerada santa pelo povo, desde sua vida exemplar que ainda perdura, tendo falecido em 1912.
- Francisco Sarmento Pimentel – Coronel Piloto-aviador que teve participação no derrube da Monarquia do Norte, em 1919, e em 1930 foi autor da primeira travessia aérea de Portugal à Índia, sendo o Felgueirense mais condecorado.
- General João Sarmento Pimentel – Participante do 5 de Outubro de 1910 da implantação da República, Comandante do movimento que derrotou a Monarquia do Norte em 1919. Escreveu a obra literária “Memórias do Capitão” que regista cenas da vida local de outras eras.
- José Xavier – Grande bairrista, iniciador de muitas realizações tendentes ao progresso local, industrial pioneiro, um dos fundadores do Instituto Escolar da Longra, criador da Associação Pró-Longra, alma de grupos cénicos e mentor da instituição da Casa do Povo da Longra.
- Adriano Ribeiro da Cunha – Presidente da Junta de Freguesia no período do Estado Novo, durante muitos anos, em tempo da falta de recursos. Então, para compensar vendeu terrenos para construções (como foi o exemplo da terra onde foi instalada a fábrica de Aurélio Pacheco, depois Prelmo e actual Codizo).
- Padre Alberto Brito – pároco de ficou ligado à freguesia por muitas formações paroquiais por si organizadas, entre as quais a Juventude Católica e a Cruzada Eucarística, além de obras no interior da igreja e no exterior (c/ p. ex. reconstrução do fontanário de S. Tiago).
- Dr. Alexandre Abreu – proprietário da antiga farmácia da Longra, pessoa dotada para fins artísticos com diversos desempenhos em antigos grupos de teatro local e apaixonado por fotografar características da freguesia (tendo, por exemplo, algumas das fotografias que lhe sobreviveram ajudado a ilustrar e enriquecer a monografia histórica da freguesia, inseridas como foram no livro “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, publicado por Armando Pinto em 1997).
- Américo Martins – industrial fundador da MIT/Metalúrgica da Longra, membro da comissão fundadora da Associação Pró-Longra, e elemento de diversas gerências da Junta de Freguesia de Rande.
- Adelino Castro – membro fundador da Pró-Longra, instituidor do correio provisório na Longra (1911) e comerciante de sucesso.
- António de Sousa Gomes – membro da comissão fundadora da Pró-Longra, dinamizador do processo da criação da Casa do Povo da Longra e elemento integrante de diversas comissões, além de autor da Marcha de Rande e primeiro funcionário do correio definitivo da Longra (1914).
- Arnaldo Passos – um dos fundadores do primitivo Futebol Clube da Longra e autor da letra do Hino da Longra.
- Padre Augusto Correia – Um dos fundadores do Instituto Escolar da Longra, posteriormente Criador do Colégio da Longra-Rande e pároco que desenvolveu grande actividade cultural e artística ao serviço da freguesia.
- Tenente João Crisóstomo Teixeira Malheiro – um dos fundadores do Colégio da Longra.
- Padre Luís de Sousa Rodrigues – célebre compositor, mestre de música gregoriana a nível internacional.
- D. Maria d’Assunção Mendonça – Grande benemérita da paróquia, tendo sido pessoa devotada à vida paroquial, quer como catequista em sua própria casa de Valdomar de baixo, quer como zeladora da igreja, para a qual ofereceu o antigo harmónio (órgão de foles e pedal) com a condição de não poder ser alienado, ou seja de nunca poder deixar de ser propriedade da paróquia (caso contrário retornaria à posse dos herdeiros).
- Alberto Baltazar Portela – antigo benemérito da Escola Primária da Longra, tendo, por volta da década dos anos trinta (séc. XX), doado diverso mobiliário e outros apetrechos para o edifício da escola antiga, assim como costumava oferecer muitas prendas às crianças da mesma escola, pelo que anualmente, sempre que regressava do Brasil (onde estava emigrado e chegou a ser Dirigente do clube desportivo Vasco da Gama), era alvo de calorosa recepção na própria escola. Em apreço foi dado seu nome a um dos primitivos campos de basquetebol da Longra numa das antigas versões do clube local, na década de 40 (séc. XX).
- António Ferreira – impulsionador da antiga Tuna da Longra, autor de canção conhecida como Marcha da Longra e fundador no início da década de sessenta do Rancho (das quatro barrocas) da Longra.
- Padre João Ferreira da Silva – pároco que desenvolveu saliente actividade paroquial, empreendeu grandes obras de restauro e conservação da igreja, além de haver sido estudioso da história da paróquia e último pároco residente na freguesia, por ora.
- Maestro Joaquim Marinho – antigo seminarista que foi o Regente da Tuna da Longra e realizou algumas exposições de objectos que inventava para mostras públicas na festa do S. João da Longra
- António Cândido Alves Ferreira – carismático Regedor da Freguesia, cargo que exerceu durante longos anos.
- Verdial Horácio de Moura – industrial de panificação da Longra e grande bairrista que, anteriormente, foi fundador do Futebol Clube de Felgueiras.
- Senhora Marquinhas da Ramadinha (nome com que popularmente era acarinhada D. Maria Cardoso) – dona da loja conhecida por aquele nome e senhora admirada e conhecida como paradigma de antigos comerciantes que ajudaram ao desenvolvimento local.
- Aurélio Pacheco – industrial, bairrista, tendo sido criador de uma fábrica de utensílios metálicos na Longra.
- Camilo Carvalho Fonseca – Presidente da Casa do Povo da Longra que empreendeu a reconstrução e ampliação do edifício-sede da mesma instituição, além de ter sido vereador da Câmara Municipal de Felgueiras.
- D. Maria Celestina Xavier – senhora que fez doações de diversos terrenos para benefícios locais.
- António Sousa – idealista da urbanização de Cimo de Vila e estrada de ligação do alto da freguesia, através de cuja acção aquele sítio, então com uma quinta apenas, depressa se transformou, ajudando ao crescimento habitacional e populacional da freguesia.
- D. Maria Cândida Sousa – antiga professora primária, entusiasta de realizações culturais e manifestações populares, activa dinamizadora de grupos etnográficos de representatividade em cortejos da freguesia e do concelho.
- João Hilário Dias – elemento da Comissão Administrativa da Junta de Freguesia de Rande após o 25 de Abril de 1974 e elemento activo da Direcção da Casa do Povo da Longra.
- José L. S. Gomes – Dedicado Secretário da Junta de Freguesia de Rande, na década de oitenta (do séc. XX), em cujo desempenho demonstrou muito interesse e entusiasmo.
- Associação Pró-Longra – instituição criada em 1928, que se revelou de grande importância para o progresso local
- Casa do Povo da Longra – Criada em 26 de Abril de 1939, ainda existente, cujas actividades têm tido primordial importância para a região
- Correio (Estação CTT-Longra) – bem público de grande serventia e importância local, criado provisoriamente na Longra em 1911 e em definitivo no ano de 1914.
- Metalúrgica da Longra – grande fábrica que, além de ter sido das maiores do país, foi autêntico símbolo local, segunda casa e emprego das populações das redondezas, como deu prestígio à então povoação da Longra.
- Mais lugares com nomes antigos de tradição que deveria ser mantida, conforme esta proposta em referência:
Santana (pela proximidade e ligação ao monte), Chãos, Bouça, Casal, Merouços, Casal Corne, Campo do Paço, Leira do Paço, Estação, Calçada (via de percurso medieval de percurso dos Caminhos Portugueses para Santiago de Compostela), Estrada Real, Rio Sousa, Figueira e Largo da Longra.
Compare-se com o que depois foi e está aprovado e tire-se conclusões... até que possa haver a devida reparação. Embora como, na época da lavra destes escritos, ainda não foram colocadas as placas respectivas, estando o assunto em banho-maria, possa entretanto ainda também haver quaisquer alterações.
Futuramente, por certo, terá de haver mesmo ajustes, que um dia a História actualizará. Até porque, com a elevação da Longra a Vila em 2003, justifica-se que a data de 1 de Julho, da aprovação da categoria de Vila da Longra na Assembleia de República, seja também lembrada, bem como nomes de personagens entretanto falecidos, como António Dâmaso (antigo secretário da Junta de Freguesia e elemento da genuína Comissão de Toponímia), Joaquim Pinto (autor da sirene da Metalúrgica da Longra, galardoado com o Prémio da Associação Industrial Portuense e grande bairrista), Luís Sousa Gonçalves (fundador da Imo), Adriano Sampaio Castro, (pioneiro do desporto local e grande empreendedor de realizações e colectividades culturais e recreativas)... etc. e tal.
Panorâmica do enfeitado terreno da antiga Feira da Longra, em aspecto parcial de um dia festivo do feirão de antanho na Longra- com a particularidade visual de trajes da época…
Dr. António Pinto Sampaio e Castro – Administrador do Concelho, Conservador do Registo Civil e político Republicano
Francisco Sarmento Pimentel
Antigas feições arquitectónicas do edifício-sede da Casa do Povo da Longra
Padre João Ferreira da Silva
Poeta e activista cultural António Sousa Gomes
Panorâmica e fixação de alguns dos diversos ângulos da nova Feira da Longra, a
1ª Feira da Vila da Longra – Novembro de 2004
© ARMANDO PINTO
1 comentário:
que ajustes se podem fazer, se a câmara já indicou o nome de rua e nr de porta, vamos esperar pelo que!!!! realmente a necessario mudar os que estão agarrados ao poder....
è tempo de mudança em todos sentidos.......
Viva a Vila da Longra, Viva Felgueiras
Mudança já
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