sexta-feira, 24 de abril de 2009

ENTREVISTA COM O PRESIDENTE DA DIRECÇÃO E DA AG, A PROPÓSITO DOS 70 ANOS DE INSTITUIÇÃO

Casa do Povo da Longra já é IPSS e tem muitos projectos em mente

Adão Coelho e Gonçalo Magalhães

Semanário de Felgueiras (SF) - Diz-se que a CP Longra é uma espécie de “CBB” do Concelho. Apesar de ser um rasgado elogio, é, também, uma responsabilidade acrescida. Quer comentar?
Adão Coelho (AC) - É um epíteto que nos atribuíram que, de certa forma, não é mais do que uma forma simpática de valorizar o trabalho desenvolvido. Contudo, não embarcamos em vaidades e, sempre com a mesma humildade, continuaremos a trabalhar para fazer mais e melhor.

SF – As comemorações do 70.º aniversário vão ser feitas dentro do “magro orçamento” da associação, recorrendo, em paralelo, os protocolos e parcerias com diversas entidades culturais, já que, a nível oficial, os apoios são quase nulos. Podem explicar melhor?
A
C - Efectivamente, os apoios oficiais têm sido muito escassos. Por força da crise que se vive actualmente, o Ministério da Cultura deixou de conceder apoios para a organização de eventos. Da Câmara Municipal, recebemos apenas um subsídio, no âmbito dos apoios generalizados oferecidos aos ranchos do concelho.
As Juntas de Freguesia, da região, por sua vez, vão fazendo o que podem. Com apenas umas milésimas do que gastam algumas entidades públicas, conseguiríamos fazer coisas grandiosas. Perante este cenário de dificuldades, temo-nos socorrido das parcerias com outras associações amigas que, numa lógica de permuta, têm ajudado a Casa do Povo a promover uma oferta cultural tão vasta. Contamos também com o apoio da Caixa Agrícola, que tem sido um parceiro importante, um bom exemplo de apoio ao abrigo do mecenato.

SF - Actualmente, talvez mercê desses protocolos e parcerias, a Casa do Povo da Longra aborda temáticas e figuras não só a nível local (da Vila da Longra), mas também a nível concelhio e do país. Não há, nisso, um certo risco de descaracterização cultural da Casa em relação ao seu meio?
Gonçalo Magalhães (GM) – O nosso trabalho centra-se, no essencial, na preservação das nossas raízes culturais, a divulgação dos nossos costumes e tradições. De qualquer modo, quando promovemos eventos sobre temas ou figuras de outras localidades também estamos a homenagear, de certa forma, aqueles que fundaram esta Casa e todos aqueles que, ao longo destes 70 anos, foram construindo um vasto património cultural e quiseram fazer da Longra um local de desenvolvimento sócio cultural. Já por aqui passaram, desde há muitas décadas, grandes figuras nacionais das artes e do espectáculo.
Alguns desses eventos que temos vindo a realizar têm surgido como um aproveitamento de oportunidades postas à nossa disposição. Foi através da nossa filosofia de parcerias que conseguimos trazer ao nosso palco artistas como Vitorino, Carlos Alberto Moniz, Manuel Freire, Francisco Fanhais, Tino Flores, Luanda Cozeti e Norton Daiello (dos Couple-Coffee), os grupos “Erva de Cheiro” e “Cantaremos Adriano”, os Hyubris, entre outros. Foi também dessa forma que, em conjunto com os paroquianos da Lapa e da Trindade, no Porto, entre outros amigos, prestamos uma brilhante homenagem ao Padre Luís Rodrigues, um filho de Rande.
Com a Associação de Cicloturistas de Felgueiras (com sede na nossa Casa), temos desenvolvido diversas actividades. Entre as muitas actividades como, por exemplo, a Etnografia, a Dança, o Carnaval da Longra, as Feiras do Livro, a Feira Tradicional e Popular, a parceria com o Cicloturismo –, o Encontro de Teatro tem registado um assinalável êxito. Neste momento, é o único do concelho.

SF - Pretendem mantê-lo, nos próximos anos?
AC - O Encontro de Teatro será para manter, pelo menos enquanto estes órgãos sociais estiverem em funções. Outra coisa não podia deixar de ser, face ao estrondoso sucesso das anteriores edições. À semelhança do que aconteceu no ano passado, vamos incluir, de novo, no programa uma mostra de Teatro das escolas do concelho.

SF - A “melhor prenda” que a Casa recebeu neste aniversário foi o reconhecimento como IPSS. Depreende-se que há, então, em paralelo com a parte cultural, um projecto social. Podem revelá-lo?
GM - Finalmente, depois de uma longa maratona burocrática para obter esse estatuto, já estamos em condições de avançar com o nosso projecto social. Surgiu, precisamente, no mês do septuagenário da Casa do Povo, o que pode ser considerado uma boa prenda.
Desde o início deste mandato que os planos de actividades da Casa do Povo da Longra prevêem a implementação de medidas de cariz social, como decorre, aliás, do objecto social dos seus estatutos.
A Vila da Longra e as outras freguesias abrangidas estatutariamente pela associação, Lordelo e Unhão, carecem de respostas sociais que urge encontrar, não só ao nível da terceira idade como no apoio à população mais carenciada.
Oportunamente apresentaremos candidaturas para financiamento de equipamentos sociais. Estamos a trabalhar para fazer algo de útil para a nossa população, sendo que a nossa concepção de apoio social, tanto à terceira idade como em outras respostas, é um pouco diferente do convencional.
Pretendemos associar as nossas valências culturais a esse tipo de serviço. Queremos que as pessoas se sintam activas e úteis, depois de uma vida de trabalho ou porque por qualquer motivo não podem ter uma vida igual ao seu próximo.

SF - Nota-se que o edifício da Casa do Povo está precisar de uma remodelação, principalmente na sua Sala de Espectáculos. Isso vai acontecer?
AC - Ao longo deste mandato, temos vindo a fazer algumas pequenas beneficiações do nosso edifício-sede. Mas, esta casa precisa de obras infra-estruturais de grande profundidade, as quais não se conseguirão sem a ajuda de outras entidades públicas e da própria população.
Tal como para a área social, vamos candidatar-nos a eventuais comparticipações financeiras do Estado para realizarmos algumas obras. Não podemos almejar uma obra que resolva, de uma só vez, todas as necessidades do edifício. Estamos a trabalhar nisso. A prioridade irá para a melhoria do conforto das suas divisões, em especial da sala de espectáculos, bem como a modernização dos equipamentos e meios técnicos da Casa, como a biblioteca, os camarins, salas para guardar instrumentos e guarda-roupa, etc.

SF – Querem aproveitar a oportunidade e fazer algum apelo às gentes da Longra e até do concelho, bem como a eventuais mecenas?
GM -
O nosso apelo vai no sentido de pedir à população da Longra que nos apoie e que participe nas actividades da Casa do Povo, acarinhando os nossos elementos que, diariamente, trabalham para o desenvolvimento sociocultural da nossa terra e dignificam os seus antepassados.
Para levar por diante alguns dos nossos projectos, contaremos com o indispensável apoio das forças vivas da região da Vila da Longra, e não só.
Por fim, não posso deixar de manifestar o desejo de ver Felgueiras seguir o exemplo que nos é dado por outros concelhos vizinhos, onde as colectividades têm uma forte preponderância nas respectivas agendas culturais.

Semanário de Felgueiras - Jornal de 24-04-2009

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